Bolsonaro avança em plano de expulsão de quilombolas de Alcântara em meio à pandemia de coronavírus.

ABSURDO!

Aproveitando a comoção nacional em torno do coronavírus, o desgoverno Bolsonaro avança na surdina com os planos de expulsar de seus territórios ancestrais centenas de famílias quilombolas de Alcântara, no Maranhão. O governo já divide entre nove ministérios as tarefas que considera necessárias para a expulsão, detalhando as determinações em uma resolução do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência, publicada no Diário Oficial na última quinta-feira (26) e assinada pelo general Augusto Heleno. O documento chancela as decisões do Comitê de Desenvolvimento do Programa Espacial Brasileiro. Enquanto outros países têm suspendido despejos, remoções e reintegrações de posse e movimentos sociais no Brasil se articulam para garantir o mesmo na Justiça, o desgoverno quer devastar ainda mais a vida dessas comunidades em meio à maior crise sanitária e socioeconômica dos últimos tempos.

As mudanças querem, literalmente, preparar o terreno para a expansão do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA) em pelo menos 12 mil hectares, depois que o Congresso aprovou, em novembro do ano passado, o acordo assinado entre Bolsonaro e Trump para a exploração comercial do Centro. Tudo isso vem sendo feito à revelia das famílias quilombolas de Alcântara, contrariando frontalmente a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), da qual o Brasil é signatário, e a própria Constituição Federal. A norma da OIT estabelece que povos e comunidades tradicionais devem ser consultados de forma PRÉVIA em relação a qualquer medida que afete seus modos de vida, o que não aconteceu em Alcântara – em um estado, aliás, que concentra o maior número de quilombos do Brasil.

Ironicamente, a resolução do GSI também menciona a elaboração de um plano de consulta às comunidades quilombolas, tentativa infame de simular um diálogo que nunca existiu e chancelar decisões que, na prática, já foram tomadas. Uma farsa! Além disso, o documento aprova um plano de comunicação junto às comunidades – que, segundo denúncia da Folha de S. Paulo em novembro do ano passado, quer “amenizar as resistências” das comunidades em relação ao CLA. A mesma reportagem revelava que o plano de remoção dos quilombolas já estava em estágio avançado, contradizendo a versão do ministro da Ciência e Tecnologia Marcos Pontes de que a expansão da área do Centro não aconteceria.

Desde o início, nos opusemos frontalmente à tramitação do Acordo: com a querida Áurea Carolina, lançamos em agosto a campanha #ConsultaQuilombolaJá, para pressionar o Parlamento a garantir o cumprimento da Convenção 169, em respeito à lei brasileira. Também pedimos ao STF que paralisasse a tramitação e conseguimos, ao lado das comunidades quilombolas, de organizações de direitos humanos e de integrantes da Coalizão Negra por Direitos, que o MPF se manifestasse em favor da consulta prévia. Infelizmente, a maioria do Parlamento foi conivente com a violação dos direitos quilombolas em Alcântara, lembrando que nosso passado colonial, escravocrata e genocida ainda insiste em deixar suas marcas no presente. Mas não vamos desistir. Já estamos tomando as providências cabíveis para barrar mais esse absurdo do desgoverno Bolsonaro. Não vai passar!

março 28, 2020