Relatório desenvolvido por pesquisadores da Universidade Federal Fluminense acompanhou mais de 4 milhões de mensagens direcionadas a 91 parlamentares mulheres, durante seis meses, e constatou um índice alto de ataques e violência discursiva. O documento aponta que parlamentares de esquerda são duas vezes mais atacadas que as de direita e que o espectro político-ideológico da parlamentar é a motivação principal das ofensas.
Entre as parlamentares monitoradas, Talíria Petrone, Dayane Pimentel e Jandira Feghali foram as mais atacadas proporcionalmente. Pelo menos uma a cada três postagens direcionadas a estas parlamentares continham algum nível de violência.
“Não nos silenciarão nem nas redes sociais, e muito menos nas ruas e na tribuna das casas legislativas”, sustenta a deputada federal Talíria Petrone (PSOL-RJ), a parlamentar mais atacada na internet. Cinco anos após o assassinato da vereadora Marielle Franco, a violência contra mulheres políticas nas plataformas digitais se evidencia cada vez mais. Com o objetivo de compreender essas manifestações, o estudo analisou uma amostra dos conteúdos monitorados, e verificou que cerca de 9% continham algum tipo de ataque. Insulto (41%), invalidação (26,6%) e crítica (24,5%) são os modos de ataque mais acionados.
Ainda que os índices de violência discursiva sejam alarmantes, chama a atenção o fato de que, em 30% dos ataques, a ofensa foi proferida por meio de tom jocoso e satírico, como uma estratégia para camuflar a agressividade. Entre as plataformas analisadas, o Twitter apresentou a maior incidência de ataques, mas é no Facebook que a violência política de gênero alcança maior visibilidade e desperta maior engajamento. Como defende Petrone, “é urgente uma política de regulação das plataformas, que efetivamente fortaleça a democracia e freie o discurso de ódio e a desinformação”. O posicionamento está alinhado com a declaração recente do Presidente Luís Inácio Lula da Silva, em carta enviada à Unesco e lida durante a conferência global “Internet for Trust”, em Paris.
“Enfrento a tentativa de silenciamento da minha voz e do meu corpo político desde antes do meu mandato de deputada federal, o que se acirrou nos últimos anos. Isso é parte da conclusão de que dos alvos nominais da violência política de gênero, fui a parlamentar mais atacada nas redes sociais. Um tipo de violência que também anda junto com outra constatação pelo estudo: a maioria das ofensas são insultos e invalidação da nossa capacidade de atuar como parlamentar”, destaca a deputada Talíria Petrone.
O estudo foi realizado pelo Laboratório de Pesquisa em Comunicação, Culturas Políticas e Economia da Colaboração da Universidade Federal Fluminense (coLAB/UFF), e integra a série de relatórios do projeto DDoS Lab, de combate à desinformação e ao discurso de ódio em sistemas de comunicação em rede. Para mais informações, acesse: https://dx.doi.org/10.56465/ddoslab.2023.002
Com informações do Laboratório de Pesquisa em Comunicação, Culturas Políticas e Economia da Colaboração da Universidade Federal Fluminense (coLAB/UFF)